SHERLOCK HOLMES __ PARTE 3
- wanderleyramos27
- 13 de fev. de 2021
- 10 min de leitura
The Great Game
As 56 contos e 4 romances de Conan Doyle são conhecidas como o "cânone" pelos fãs de Holmes. Os primeiros estudiosos canônicos incluíam Ronald Knox na Inglaterra e Christopher Morley em New York. Morley fundou a The Baker Street Irregulars—a primeira sociedade dedicada ao cânone Holmes— em 1934.
O Sherlockian game (também conhecido como Holmesian game, the Great Game, ou simplesmente the Game) não é um jogo literal, mas o nome que se dá ao conceito de tentar resolver anomalias e esclarecer detalhes sobre Holmes e Watson através do cânone. The Game, que trata Holmes e Watson como se fossem pessoas reais (e Conan Doyle como um agente literário de Watson), combina história com aspectos das histórias para construir biografias e outras análises acadêmicas desses aspectos. Ronald Knox é creditado como sendo o inventor do jogo.
Data de Nascimento
Um detalhe analisado no Jogo é a data de nascimento de Holmes. A cronologia das histórias é notoriamente difícil, com muitas histórias sem datas e muitas outras contendo datas contraditórias. Morley e William Baring-Gould (autor de Sherlock Holmes of Baker Street: A Life of the World's First Consulting Detective) afirmam que o detetive nasceu em 6 de Janeiro de 1854, sendo o ano derivado da declaração em "His Last Bow" de que ele tinha 60 anos em 1914, enquanto que o dia preciso é derivado de uma especulação mais ampla e não-canônica. Esta é a data em que os Baker Street Irregulars trabalham, com seu jantar anual sendo realizado a cada mês de Janeiro. Laurie R. King também especulou sobre a data de nascimento de Holmes. Ela argumenta que os detalhes de "The Adventure of the Gloria Scott" (um conto sem data interna precisa) indicam que Holmes terminou seu segundo (e último) ano na universidade em 1880 ou 1885. Se ele começou a universidade aos 17 anos, seu ano de nascimento pode ser tão antigo quanto 1868.
Saúde Mental
A saúde emocional e mental de Holmes também são analisadas no Jogo. No primeiro encontro dos dois, em Um Estudo em Vermelho, Holmes informa a Watson que cai "no lixo às vezes" e aí não abre sua "boca por dias a fio". Leslie S. Klinger sugere que Holmes exibe sinais de transtorno bipolar, com intenso entusiasmo seguido de auto-absorção indolente. Outros leitores modernos especularam que Holmes pode ter a síndrome de Asperger, com base em sua intensa atenção aos detalhes, falta de interesse em relacionamentos interpessoais e tendência ao monólogo.[51] John Radford (1999) especulou sobre a inteligência de Holmes.[52] Usando como base as histórias de Conan Doyle, ele aplicou três métodos para estimar o quociente de inteligência do detetive e concluiu que seu QI era de 190. Snyder (2004) examinou os métodos de Holmes no contexto da criminologia de meados do século 19.[53]
Conhecimento
Holmes, por Sidney Paget.
No romance Um Estudo em Vermelho, Dr. Watson, na tentativa de descobrir a profissão de Holmes, avalia os conhecimentos do detetive como:
Literatura: zero;
Filosofia: zero;
Astronomia: zero;
Política: escassos;
Botânica: variáveis. Conhece a fundo a beladona, o ópio e os venenos em geral. Nada sabe sobre jardinagem e horticultura;
Geologia: práticos, mas limitados. Reconhece à primeira vista os diversos tipos de solo. No regresso dos seus passeios, mostra-me manchas nas calças, e diz-me, pela sua cor e consistência, em que partes de Londres as conseguiu;
Química: profundos;
Anatomia: exatos, mas pouco sistemáticos;
Literatura sensacionalista: imensos. Parece conhecer todos os pormenores de todos os horrores perpetrados neste século;
Música: Toca bem o violino;
Educação Física: É habilíssimo em boxe, esgrima e bastão;
Direito: Tem um bom conhecimento prático das leis inglesas.
Histórias posteriores revelam que a avaliação de Watson estava incompleta em alguns aspectos e imprecisa em outros: no final de Um Estudo em Vermelho, Holmes demonstra um conhecimento do latim.[54] Apesar da suposta ignorância de política de Holmes, em "Escândalo na Boêmia", ele imediatamente reconhece a verdadeira identidade do "Conde von Kramm".[55] Seu discurso é salpicado de referências à Bíblia, Shakespeare e Goethe. Em certo momento, o detetive cita uma carta de Gustave Flaubert a George Sand no francês original. No final de "Um Caso de Identidade", Holmes cita Hafez.[56] Em O Cão dos Baskervilles, o detetive reconhece obras de Martin Knoller e Joshua Reynolds.[57] Em "O caso dos Planos de Bruce-Partington", Watson diz que, em novembro de 1895, "[Holmes] ficou absorvido numa monografia que estava escrevendo sobre Motetes Polifônicos de Lassus".[58] Holmes também é um criptoanalista: ele diz a Watson, em "A Aventura dos Homenzinhos Dançantes", que "[está] familiarizado com todas as formas de escrita secreta, e eu mesmo sou autor de uma monografia banal sobre o assunto, na qual analiso 160 códigos diferentes".[59]
O detetive acredita que a mente tem uma capacidade limitada para o armazenamento de informações, e aprender coisas inúteis reduz a capacidade de aprender coisas úteis. As histórias posteriores afastam-se dessa noção: no segundo capítulo de O Vale do Medo, ele diz: "Todo conhecimento é útil para o detetive",[60] e perto do fim de "A Aventura da Juba do Leão", o detetive se chama "um leitor ávido, com uma memória extraordinária para coisas sem importância.".[61]
O detetive é particularmente experiente na análise de evidências físicas, incluindo impressões latentes (como pegadas, impressões de cascos e faixas de bicicleta) para identificar ações em uma cena de crime (Um Estudo em Vermelho, "Silver Blaze", "A Aventura da Priory School", O Cão dos Baskervilles, "O Mistério do Vale Boscombe"); usando cinzas de tabaco e pontas de cigarro para identificar criminosos ("O Paciente Interno", O Cão dos Baskervilles); comparando letras dactilografadas para expor uma fraude ("Um Caso de Identidade"); usando resíduos de pólvora para expor dois assassinos ("Os Senhores de Reigate"); comparando balas de duas cenas de crime ("A Aventura da Casa Vazia"); analisando pequenos pedaços de restos humanos para expor dois assassinatos ("O Caso da Caixa de Papelão"); e um uso precoce de impressões digitais ("A Aventura do Construtor de Norwood").
Dedução
Holmes segurando uma rosa, por Sidney Piget.
O principal método de detecção intelectual de Holmes é o raciocínio abdutivo.[62] A dedução holmesiana consiste principalmente em inferências baseadas na observação,[63] de acordo com Carlo Ginzburg, Holmes trabalha com indícios.[64]
Em Um Estudo em Vermelho, Holmes deixa claro que se baseia em observações e indícios: "Por enquanto, ainda não dispomos de dados […] É um erro capital formular teorias antes de contarmos com todos os indícios. Pode prejudicar o raciocínio.”[65] Em "A Coroa de Berilos", Holmes explica como dá prosseguimento ao seu trabalho até chegar na solução: “É um velho preceito meu que, quando se exclui o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade.”.[66]
Em Um Estudo em Vermelho, o Dr. Watson compara Holmes com C. Auguste Dupin, o detetive de ficção de Edgar Allan Poe, que empregou uma metodologia similar. Para isso, Holmes responde: "Sem dúvida, imagina estar me fazendo um elogio, quando me compara a Dupin [...] Bem, na minha opinião Dupin era um tipo bastante inferior. Aquele seu truque de interromper os pensamentos do amigo com um comentário oportuno, após um silêncio de 15 minutos, além de espalhafatoso, é superficial. Não duvido que ele tivesse certo dom analítico, mas não era de modo algum o fenômeno que Poe parecia imaginar".[67] Aludindo a um episódio em "Os Assassinatos da Rua Morgue", onde Dupin deduz o que seu amigo pensa, apesar de terem andado juntos em silêncio por um quarto de hora. No entanto, Holmes realiza o mesmo "truque" com Watson em "O Caso da Caixa de Papelão".
Disfarces
Holmes usou diversos disfarces em suas histórias, entre eles: um marinheiro (em O Signo dos Quatro), um noivo embriagado (em "Um Escândalo na Boêmia"), um fumante de ópio (em "O Homem do Lábio Torcido"), um venerável padre italiano (em "O Problema Final") e uma mulher idosa (em "A Aventura da Pedra Mazarin").[68]
Inspiração
Depois de observar qualquer estranho, o Dr. Joseph Bell (1837-1911), um cirurgião de Edimburgo, era capaz de deduzir muito de sua vida e de seus hábitos. Isso impressionou um de seus alunos, Arthur Conan Doyle, que admitiu ter usado e ampliado seus métodos quando concebeu o detetive Sherlock Holmes.[69]
Bell inspirou não somente a criação da personalidade de Holmes, mas também o porte físico do detetive. Em um texto publicado no periódico The National Weekly em 1923, Doyle conta como foram seus anos na faculdade de medicina, quando iniciou o processo de criação de seu personagem mais famoso. Neste, o aluno descreve seu notável professor Bell:[70]
“Era magro, vigoroso, com rosto agudo, nariz aquilino, olhos cinzentos penetrantes, ombros retos e um jeito sacudido de andar. A voz era esganiçada. Era um cirurgião muito capaz, mas seu ponto forte era a diagnose, não só de doenças, mas de ocupações e caráteres.[69]”
Doyle teria se baseado também na filosofia de Bell, que dizia " maioria das pessoas veem, mas não sabem observar". O dr. Bell dizia aos seus convivas: "olhando de relance um indivíduo, a gente pode identificar-lhe o país de origem por suas feições; pelas mãos, a profissão e os meios de vida; e o resto da sua história é revelado pelo modo de andar, os maneirismos, os berloques do relógio e até os fiapos que aderem às suas roupas."[71]
Pelo caráter arrogante de Holmes, Bell negou a inspiração e tomou-a como pejorativa à sua pessoa.[69]
Exemplo de personagem influenciado pelo personagem de Doyle, na televisão, é o detetive Adrian Monk, da série homônima, que tem um senso de observação e dedução do mesmo nível de Sherlock, mas que destaca-se pelo seu transtorno obsessivo-compulsivo (que, por sinal, são parte de seu sucesso como detetive).[72] Outro personagem inspirado em Sherlock é Gregory House,[73] da série de TV estado-unidense House M.D., chefe da ala de diagnósticos, que utiliza lógica dedutiva para desvendar as mentiras de seus pacientes; House costuma sempre dizer "Todo mundo mente". As similitudes entre Holmes e House são muitas: o homem que atirou em House se chama Moriarty, maior inimigo de Holmes; House também é viciado, também tem gosto pela música; e mora no número 221B da Baker Street.
Nos quadrinhos, a Disney criou o personagem Sir Lock Holmes, visivelmente inspirado em Sherlock pois, além do nome parecido, possui o mesmo porte físico, está sempre com o cachimbo e gosta de tocar violino. Diferente de Sherlock, porém, é totalmente desafinado no violino e erra todas as deduções (estando mais para Inspetor Clouseau). Outro personagem da Disney com nome e características parecidas é Berloque Gomes, porém este não é um personagem cômico, e sim um detetive que auxilia Mickey em algumas investigações.
Apesar do grande sucesso de sua obra, Conan Doyle não gostava de escrever histórias para Sherlock Holmes, pois considerava, o romance policial literatura de segunda classe. Na verdade, esse tipo de história só passou a ser respeitado após o sucesso de seu personagem. Conan Doyle preferia escrever o que considerava literatura de qualidade (o único livro medianamente famoso seu nessa categoria é O Mundo Perdido). Em novembro de 1891, ele escreveu para sua mãe: "Acho que vou assassinar Holmes... e lhe dar fim de uma vez por todas. Ele priva minha mente de coisas melhores." E realmente o fez, no conto titulado "O Problema Final", o último do livro "Memórias de Sherlock Holmes". Ele deixou Holmes de lado durante 10 anos (de 1893 a 1903), mesmo com todos os protestos por parte dos fãs. Em 1901, Doyle escreveu o que viria a ser um dos mais famosos dos livros do detetive, "O Cão dos Baskervilles", um ano antes de sua ressurreição no conto "A Casa Vazia", o primeiro do livro "A Volta de Sherlock Holmes".
Criminologia e Ciência forense
As histórias de Sherlock Holmes ajudaram a se casar com ciência forense, particularmente a aguda observação de Holmes de pistas pequenas, e literatura. Ele usa evidências de rastreamento (como impressões de sapatos e pneus), impressões digitais, balística e análise de caligrafia para avaliar suas teorias e as da polícia. Algumas das técnicas de investigação do detetive, como a análise de impressões digitais e a caligrafia, estavam em sua infância quando as histórias foram escritas; Holmes frequentemente lamenta a contaminação de uma cena do crime e a integridade da cena do crime tornou-se um procedimento de investigação padrão.
A Antropometria também ajuda a explicar muito das técnicas utilizados por Holmes. Alphonse Bertillon, em 1897, elaborou um método de identificação de pessoas, para ser utilizado principalmente na identificação de criminoso, esse método ficou conhecido como "Bertillonage", a partir de 1882. A Bertillonage se baseia em medições precisas de partes do corpo e em percepções antropológicas anteriores, sendo constituída por três partes:
O sinal antropométrico, que consiste em medir com a máxima precisão, em condições prescritas, algumas das dimensões mais características da estrutura óssea do corpo humano; O sinal descritivo ou morfológico, que é a observação da forma corporal e dos movimentos, e até mesmo as qualidades mentais e morais mais características; E o sinal por marcas peculiares, ou sinal patológico, como poderia ser chamado, que é a observação das peculiaridades na superfície do corpo, resultante de doença, acidente, deformidade ou desfiguração artificial, como pintas, verrugas, cicatrizes, tatuagens etc..
Considerando o terceiro fator da Bertillonage, sinais na pele são claros indícios e detalhes que servem para descrever indivíduos. Tatuagem, por exemplo, são detalhes que Holmes presta atenção: “O peixe tatuado logo acima do seu pulso direito só poderia ter sido feito na China. Fiz um pequeno estudo sobre marcas de tatuagem e até contribuí para a literatura sobre o assunto”.
Romance policial
Como gênero literário, o romance policial foi menosprezado por muito tempo, sendo considerado uma leitura facilitada, pois se baseia em técnicas de investigação e explicações como os casos e, muitas vezes, não aprofunda na personalidade dos personagens (com exceção dos principais).
Edgar Allan Poe foi um dos precursores a escrever sobre um detetive, Poe criou Chevalier Auguste Dupin e lhe apresentou em uma série de contos: Os Assassinatos da Rua Morgue (1841), O Mistério de Marie Rogêt (1842). A Carta Roubada (1844).
Poe influência claramente as história de Sherlock Holmes, tanto que uma das frases mais reconhecidas de Holmes, foi inspirada em um frase de Dupin. Na fala de Dupin: “Agora que fomos trazidos a esta conclusão de uma forma tão inequívoca, não é nosso papel, como homens de raciocínio, rejeitá-la em virtude de sua impossibilidade. O que nos resta é provar que estas “impossibilidades” aparentes, na realidade, são possíveis.”, na versão de Holmes: “[...] quando se exclui o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade”.
Os livros
Romances
A Study in Scarlet (1887)
The Sign of the Four (1890)
The Valley of Fear (1915)
Contos
The Adventures of Sherlock Holmes, coletânea de doze contos (1892)
The Memoirs of Sherlock Holmes, coletânea de onze contos (1894)
The Return of Sherlock Holmes, coletânea de treze contos (1905)
His Last Bow, coletânea de oito contos (1917)
The Case-Book of Sherlock Holmes, coletânea de doze contos (1927)
Adaptações
Várias peças teatrais, paródias, contos e artigos do próprio Conan Doyle foram publicadas em antologias, como The Final Adventures of Sherlock Holmes (2005, edição de Peter Haining), Sherlock Holmes: the Published Apocrypha (1980, edição de Jack Tracy) e The Uncollected Sherlock Holmes (1993, compilação de Roger Lancelyn Green).
Das muitas adaptações já feitas, alguns atores ficaram famosos pela interpretação do personagem, dois dos mais conhecidos sendo Basil Rathbone, em filmes de 1939 a 1946, e Jeremy Brett, na série da Granada Television de 1984 a 1994.
Algumas outras adaptações são os filmes: Sherlock Holmes (filme de 2009), e sua continuação, Sherlock Holmes: A Game of Shadows, ambos do diretor inglês Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. no papel principal e Jude Law como John Watson.
O filme Mr. Holmes (2015) estrelou Ian McKellen como Sherlock Holmes, Laura Linney como a governante Munro e Milo Parker como seu filho Roger, na direção de Bill Condon. Na trama, baseada no livro A Slight Trick of the Mind, do autor norte-americano Mitch Cullin, Sherlock está aposentado, com 93 anos, e trabalhando como apicultor.
A série britânica Sherlock, de Steven Moffat e Mark Gatiss, foi lançada em 2010 e retrata Holmes nos dias atuais. O endereço onde mora é o mesmo: 221B da Baker Street, em Londres, na Inglaterra. Benedict Cumberbatch dá vida a Sherlock Holmes e Martin Freeman ao Dr. John Watson. A quarta temporada da série tem previsão de estreia para janeiro de 2017.
Há também a série americana Elementary, lançada em 2012, onde Holmes também vive nos dias atuais, só que em Nova York, nos EUA. Jonny Lee Miller interpreta Sherlock Holmes, e o Dr. Watson aparece como uma mulher: Dra. Joan Watson, uma cirurgiã interpretada por Lucy Liu. Além da série japonesa Miss Sherlock, lançada em 2018, com os dois personagens principais interpretados por mulheres: Yūko Takeuchi como Sara "Sherlock" Shelly Futaba e Shihori Kanjiya como Dra. Wato.
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