TEXTO 2: SOBRE O LENDÁRIO DON JUAN DE MARCO
- wanderleyramos27
- 25 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
Don Juan é um poema satírico de Lord Byron, baseado no mito de Don Juan, que o autor subverte, tratando de descrever Juan não como um conquistador cruel e insaciável (como foi considerado nas interpretações anteriores do mito, por exemplo, em Molina, Molière ou Mozart), mas como um homem facilmente seduzido pelas mulheres, que é lançado nos braços delas pela força das circunstâncias e vicissitudes do destino.
O poema é uma variação irônica e satírica sobre a estrutura épica, gênero conhecido em inglês como mock epic, e está dividido em dezessete cantos de diferentes tamanhos, composto em oitava rima, em pentâmetros jâmbicos, contando com pouco mais de duas mil estrofes, isto é, mais de dezesseis mil versos.
O próprio Byron denominou-o um "épico satírico" (Don Juan, c. xiv, st. 99); completou-lhe dezesseis cantos e deixou o décimo sétimo inacabado, antes de sua morte, em 1824. O autor dizia não possuir um planejamento pré-estabelecido do enredo dos cantos subsequentes, embora em várias cartas admita que "assunto não lhe faltasse".
Quando os dois primeiros cantos foram publicados anonimamente em 1819, o poema foi criticado pelo seu suposto "conteúdo imoral" (vale dizer que, acerca do protagonista byroniano, Don Juan ainda moço, nada há de imoral, no entanto, alguma imoralidade será encontrada nas alusões históricas, portanto verídicas, que o narrador cita em suas inúmeras digressões), embora tenha sido imensamente popular à época, e seja bastante lido, apreciado e influente ainda hoje.
A primeira tradução integral da obra para a língua portuguesa foi realizada por Lucas Zaparolli de Agustini, em 2020. A tradução dos mais de dezesseis mil versos foi feita em verso, na mesma estrutura estrófica do original, a oitava rima.
História
Byron começou o primeiro canto de Don Juan nos fins de 1818, e estava trabalhando no canto décimo sétimo no começo de 1823. O poema foi publicado em partes, em diversos tamanhos e intervalos de tempo. Interrupções na composição e publicação de Don Juan foram devidos à desaprovação e desencorajamento tanto dos amigos, quanto pela hesitação e procrastinação do editor. O Canto I. foi escrito em 1818; Canto II. em Dezembro-Janeiro, 1818–1819. Ambos publicados em 15 de julho de 1819. Cantos III. e IV. foram escritos no inverno de 1819–1820; Canto V., após um intervalos de nove meses, em Outubro-Novembro de 1820, mas a publicação dos Cantos III., IV., V. foi tardada até 8 de agosto de 1821. Em junho de 1822, Byron começou a trabalhar no sexto, e em fins de março de 1823 ele havia completado o décimos sexto canto. Mas a publicação desses últimos cantos, que tinham sido recusados por John Murray, e foi finalmente confiada a John Hunt, alongou-se por um período de vários meses. Cantos VI., VII., VIII., com um Prefácio, foram publicados em 15 de julho; Cantos IX., X., XI em 29 de agosto; Cantos XII., XIII., XIV., em 17 de dezembro de 1823; Cantos XV., XVI. em 26 de março de 1824.
As alusões da vida de Byron em sua obra são diversas: o perfil de Donna Inez (mãe de Don Juan) é um retrato semi-velado tanto da mãe de Byron, quanto de sua própria esposa Annabella Milbanke (filha de Sir Ralph Milbanke), prima de Caroline Lamb.
Sinopse
O Argumento
Don Juan possui dois personagens principais: o jovem Juan, que nada faz, sendo apenas um joguete da narrativa, e o verdadeiro personagem, o narrador, que interrompe a cada passo sua narrativa para inserir inúmeras digressões, ironias, críticas pessoais e literárias das obras de outros poetas, de amigos e desafetos etc.
A história, contada em dezessete cantos, começa com o nascimento de Don Juan, - o que pode ser considerada uma abordagem inovadora operada sobre o mito, no qual costumeiramente Juan entrava em cena já velho, vilão contumaz, não conseguia mais seduzir ninguém e estava prestes a convidar para o jantar a estátua de pedra do comendador, feita em homenagem àquele a quem Don Juan assassinara, que lhe levaria ainda vivo para jantar no inferno. A inovação também se dá no âmbito formal, este sendo, portanto, um épico que não começa in medias res, como deveria ser na tradicional estrutura épica.
Juan, na versão byroniana, aos dezesseis anos, teve um caso com a amiga da sua mãe, Donna Júlia, de vinte e três, que era casada com Don Alfonso, cinquenta anos, que logo descobre o adultério e, por conseguinte, Don Juan vê-se obrigado a deixar apressadamente sua terra natal, indo para Cádis, para de lá tomar um navio que o levasse a Itália e França. Neste ínterim, Juan sofre um naufrágio e, após passar sérias privações no mar, sai como único sobrevivente, e é encontrado pela filha de um pirata, Haidée, princesa da ilha, sendo posteriormente vendido pelos homens de Lambro, pai de Haidée, como um escravo. A sultana Gulbeyaz adquire-o na sequência como escravo sexual. Baba, o eunuco do harém, disfarça-o de mulher e leva-o sorrateiramente pelas câmaras do gigante palácio onde Juan passará a noite com mais de mil mulheres, sem que elas possam descobrir que é um homem vestido de mulher. Don Juan junta-se ao exército russo, e salva uma garota muçulmana chamada Leila. Após esse feito heroico, conhece pessoalmente Catarina, a Grande, que o leva para sua corte na Rússia; lá, dado o frio, Juan fica doente, e é enviado para a Inglaterra, onde encontra alguém para cuidar da jovem Leila. Na sequência, algumas aventuras envolvendo a aristocracia britânica e o fantasma do monge negro e o poema se encerra no Canto XVII.
Mito de Don Juan
Don Juan é a outra face do Fausto. Ambos os mitos surgem e se insurgem no cristianismo: um quer alcançar a plenitude através da sabedoria, o outro, por meio da satisfação sexual. Representam as duas maiores cobiças humanas. Fausto faz um pacto com Mefisto; Don Juan vai para o inferno ainda em vida, isto é, antes de morrer (o chão se abre e ele é sugado para dentro da terra). Essa é a versão clássica do mito, como se vê em O Convidado de Pedra e o Burlador de Sevilha, de Tirso de Molina.
O tratamento que Byron confere ao mito é bastante diferente: seu épico não começa in medias res, como é comum na estrutura épica, mas começa a narrativa pela infância de Juan. Don Juan não seduz nenhuma mulher na obra byroniana. É um jovem inocente lançado pelo destino a toda sorte, que vai sendo paulatinamente corrompido pelos vícios das sociedades, às quais o autor critica como moralista, influenciado por suas leituras de Montaigne. Ao contrário do mito tradicional, nada é dito do "convidado de pedra" na versão de Byron; entretanto, no canto décimo sétimo, é Juan que vai como convidado para jantar e acaba recebendo a visita do fantasma do monge negro... seria mesmo um fantasma? ou uma mulher, a versão feminina de Juan, uma sedutora contumaz, que chega para seduzir o rapaz?
Comentários