TRANSPLANTES DE CORAÇÃO - PESQUISA NO GOOGLE - ´PARTE 1
- wanderleyramos27
- 29 de jun. de 2021
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Em 1.968, foi realizado o primeiro transplante de coração no Brasil e na América Latina, no Hospital das Clínicas da USP. João era João Ferreira da Cunha, mas entrou para a história como João Boiadeiro.
Sabia-se pouco sobre ele: Era um homem simples de Mato Grosso e tinha 23 anos. Sofria de insuficiência cardíaca e entendia a gravidade da cirurgia, mas sem muita profundidade. Dizia que ", se fosse para melhorar, tudo bem", lembra Noedir Stolf, 75, médico formado na USP havia dois anos e que assistiu à cirurgia, comandada por Euryclides de Jesus Zerbini (1912 - 1993) e Euclydes Marques. A manchete do jornal Folha de S. Paulo, foi em 29 de Maio, 3 dias após a cirurgia. e o transplante rendeu seis manchetes e mais de 20 páginas. João virou também música, cantada pela dupla sertaneja Moreno e Moreninho.
Após a cirurgia, teve apenas 28 dias de vida e de escrutínio público. "João morreu", disse nova manchete, em letras garrafais, em 23 de Junho. O primeiro transplante cardíaco do mundo tinha acontecido havido cinco meses, na África do Sul. Desde então, as pesquisas e testes com cães e com cadáveres, liderados por Euryclides de Jesus Zerbini, se intensificaram.
Em Novembro de 1.967, o americano Norman Shumway anunciou que estava preparado para fazer o primeiro transplante de coração do mundo.
Mas o sul- africano Christian Barnard foi mais ágil. Em 3 de Dezembro de 1967, transplantou o coração de Denise Darvall, morta em um acidente aos 36 anos, em Louis Washansky, de 55 anos, na Cidade do Cabo. O feito consagrou Barnard. Washansky morreu 18 dias depois, de pneumonia.
A identidade do dono do coração de João Boiadeiro demorou só quatro dias para vir à tona. Última peça do quebra- cabeças da cirurgia, virou informação valiosa para os jornais. A família do serralheiro Luís Ferreira Barros, morto em um acidente, havia concordado com a doação, mas não com a divulgação, como conta Marques em seu livro "A Face Oculta dos Transplantes".
A autorização para a doação pioneira só veio após a constatação da morte cerebral, trâmite que não mudou de 50 anos para cá. Na época, porém, discutia-se ainda sobre qual seria o momento determinante da morte de uma pessoa - alguns defendiam que ela só ocorreria quando o coração parasse de bater.
Foi no meio dessa discussão que o americano Shumway perdeu a vez para o sul- africano Barnard. Mas, num país católico como o Brasil, o apoio do papa Pio 12 caiu como uma luva: Segundo o pontífice, não seria antiético desligar o respirador artificial de um sujeito já gravemente inconsciente, sem chance de melhora. Caberia, então, à medicina determinar o momento da morte de uma pessoa.
Desde 1940, o soviético Vladimir Demikhov já fazia seus experimentos e servia de inspiração para médicos de outros países. Além de transplantar corações e pulmões em cães, chegou a implantar uma cabeça de cachorro no corpo de outro - uma espécie de Cérbero, cão guardião do inferno que tinha três cabeças, segundo a mitologia grega.
Peter Medawar (1915 - 1987), biólogo britânico nascido no Brasil, também ajudou a trilhar esse caminho. Foi um dos pioneiros a estudar com profundidade a base imunológica dos transplantes, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1960.
27/05/1968: A Primeira Página do jornal Folha de S. Paulo se dedica ao transplante, com foto de Zerbini, descrição da cirurgia e discussões éticas, jurídicas e religiosas.
Mesmo com a técnica já apurada, ainda faltavam recursos farmacológicos para combater a rejeição ao órgão pelo novo organismo.
O fato não era menosprezado pelos médicos, mas era enorme a vontade de demonstrar a viabilidade da nova técnica - ainda mais depois da cirurgia na África do Sul.
Como conta Euclydes Marques, pensava-se em combater a rejeição a posteriori, como uma doença como tantas outras. "Nessa hora, o médico não está tão preocupado com o paciente, mas em resolver um problema", diz.
Passada a euforia inicial, houve um desencanto diante dos resultados negativos. Foram 100 transplantes em 1968 em todo o mundo, 50 em 1969, 20 em 1970 e 1971.
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